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“Café Fake”: Produto Similar ao Café Gera Polêmica e Alerta de Especialistas

Um produto conhecido como “cafake” ou “café fake” tem causado grande repercussão nas redes sociais e preocupação entre consumidores e especialistas. Trata-se de um “pó para preparo de bebida à base de café”, uma mistura que contém café e outras impurezas, mas que não possui registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercialização.

A denúncia partiu da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), cujo diretor, Celírio Inácio da Silva, destacou em um vídeo que viralizou recentemente que o café puro é extraído exclusivamente do grão. No entanto, o “cafake” inclui resíduos como cascas, mucilagem, paus, pedras e palha, elementos que não fazem parte do café tradicional.

Preço Chamativo e Rótulo Enganoso

Uma das principais preocupações com o produto é o preço. Uma imagem amplamente compartilhada nas redes sociais mostra um pacote de 500g do “cafake” sendo vendido por R$ 13,99menos da metade do preço médio do café no varejo, que atualmente gira em torno de R$ 30.

Além do valor atrativo, a embalagem do produto tem um design muito semelhante ao de cafés tradicionais, o que pode confundir os consumidores. Isso levanta questionamentos sobre a transparência na rotulagem e a necessidade de maior fiscalização para evitar que itens similares sejam vendidos como se fossem café puro.

Inflação e o Crescimento dos Produtos “Parecem, Mas Não São”

O surgimento do “cafake” está inserido em uma tendência mais ampla do mercado: a proliferação de produtos que parecem, mas não são. Esse fenômeno se intensifica em momentos de inflação elevada, como o atual, que registrou uma alta de 39,6% no preço do café em 2024, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Outros exemplos incluem:

  • Bebida láctea, que se parece com iogurte, mas contém menos leite.
  • Óleo composto, mistura de azeite com outros óleos vegetais.
  • Creme culinário, substituto do creme de leite tradicional.

Esses produtos são permitidos por lei, desde que identifiquem claramente sua composição, o que nem sempre acontece.

Discussão Sobre Produtos Similares Ganha Força

O debate sobre produtos “parecem, mas não são” ganhou ainda mais força após uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sugeriu que os consumidores substituíssem produtos caros por alternativas mais baratas para forçar a queda dos preços.

“A sabedoria do ser humano diz que, se todo mundo parar de comprar o que está caro, o vendedor será obrigado a baixar o preço”, afirmou Lula em entrevista a rádios da Bahia.

A substituição de produtos é uma estratégia comum entre famílias de baixa renda para ajustar o orçamento. Segundo Luciana Medeiros, especialista em varejo da consultoria PwC, esse comportamento segue um padrão:

  1. O consumidor começa comprando um produto de qualidade superior.
  2. Com a alta de preços, opta por uma versão mais barata.
  3. Se a situação piora, passa para a versão mais simples possível, como suco em pó em vez de suco natural.

A Indústria e a Criação de Novos Produtos Alternativos

O mercado vem desenvolvendo versões alternativas de produtos tradicionais para reduzir custos. Um exemplo é o soro do leite, que antes era descartado na produção de queijo, mas passou a ser utilizado na formulação de diversos alimentos. Assim surgiram:

  • Mistura láctea condensada (substituto do leite condensado).
  • Composto lácteo (similar ao leite em pó).
  • Cobertura cremosa (parecida com requeijão).
  • Mistura alimentícia com queijo ralado (substituto do queijo ralado tradicional).

Embora essas alternativas sejam mais baratas, muitos consumidores não percebem a diferença na composição até lerem os rótulos.

Produtos Similares Podem Induzir ao Erro

Um dos maiores problemas dos produtos similares é a rotulagem confusa, que pode induzir o consumidor ao erro. Mariana Ribeiro, nutricionista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), explica que os rótulos devem destacar claramente a categoria do produto e a lista de ingredientes.

No caso do “café fake”, mesmo que fosse regulamentado, sua venda poderia ser considerada problemática caso a embalagem não deixasse claro que se trata de uma “bebida sabor café”, e não de café puro.

Segundo o Observatório da Publicidade de Alimentos (OPA), muitos consumidores só percebem que compraram um produto diferente do que imaginavam quando já estão em casa. Isso acontece porque os produtos são colocados nas mesmas prateleiras que os tradicionais, dificultando a distinção.

Casos de Produtos com “Ingredientes Fantasmas”

Outra estratégia preocupante da indústria é a utilização de ingredientes “fantasmas”, que aparecem nas embalagens, mas não fazem parte da composição real. Alguns exemplos:

  • Creme de avelã sem avelã – Feito apenas com cacau e aromatizante.
  • Biscoito “sabor aveia e mel” sem mel – Apenas aromatizado.

Essas práticas geram indignação nos consumidores, especialmente quando os produtos são comercializados com um apelo de saudabilidade.

Esses Produtos Fazem Mal à Saúde?

Nem todos os produtos similares são prejudiciais, mas muitos possuem qualidade nutricional inferior aos originais. Os itens feitos com soro de leite, por exemplo, têm menos proteínas e nutrientes do que o leite puro.

Além disso, muitos são ultraprocessados, ou seja, passam por várias etapas industriais e contêm altas quantidades de açúcares, sal e gorduras. Entre os exemplos estão:

  • Refrigerantes
  • Embutidos e frios
  • Bebidas lácteas artificiais
  • Massas congeladas

O consumo frequente desses alimentos aumenta o risco de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.

Uma dica para identificar produtos ultraprocessados é observar a presença de corantes, aromatizantes e edulcorantes na lista de ingredientes. Além disso, a ordem dos ingredientes indica sua quantidade na composição, sendo o primeiro item o mais presente.

O “Café Fake” e a Falta de Regulamentação

No caso específico do “café fake”, a Abic alerta que o produto não tem aprovação da Anvisa e apresenta na embalagem resoluções revogadas pela agência reguladora. Isso indica que não há controle sobre sua segurança alimentar.

A polêmica levanta a necessidade de mais fiscalização e transparência na comercialização de produtos similares, para garantir que os consumidores saibam exatamente o que estão comprando e consumindo.

Veja a matéria original em: BBC Brasil

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