EUA dizem que unidades militares de Israel violaram direitos humanos antes da guerra
O Departamento de Estado dos Estados Unidos determinou que cinco unidades de segurança israelenses cometeram violações graves dos direitos humanos antes do início da guerra com o Hamas na Faixa de Gaza.
A pasta ainda está decidindo se restringirá a assistência militar a uma das unidades – supostamente o batalhão ultraortodoxo Netzah Yehuda. Esse batalhão estaria envolvido na morte, em janeiro de 2022, de um idoso palestino-americano.
As outras quatro unidades “remediaram efetivamente essas violações”, disse o vice-porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, nesta segunda-feira (29), sem detalhar essas ações de remediação.
Em uma carta sem data ao presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Mike Johnson, o secretário de Estado Antony Blinken disse que três das cinco unidades fazem parte das Forças de Defesa de Israel (FDI) e duas são “unidades de autoridade civil”, informando que os abusos ocorreram na Cisjordânia.
“Continuamos com consultas e compromissos com o governo de Israel. Eles enviaram informações adicionais referentes a essa unidade e continuamos tendo essas conversas”, destacou Patel.
“Todos estes incidentes ocorreram muito antes de 7 de outubro e nenhum ocorreu na Faixa de Gaza”, observou Patel.
De acordo com uma fonte, os israelenses contaram aos EUA nas últimas semanas sobre ações que tomaram anteriormente e não foram reveladas. Enquanto isso, o governo americano está alisando essas ações para ver se são suficientes para adiar a restrição da ajuda.
A administração de Joe Biden foi criticada por supostamente ceder à pressão do governo israelense para adiar quaisquer medidas punitivas contra a unidade.
Autoridades israelenses de alto escalão, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, expressaram duras críticas aos relatos de que os EUA tomariam ações.
“Em um momento em que nossos soldados estão lutando contra os monstros do terror, a intenção de impor uma sanção a uma unidade das FDI é o cúmulo do absurdo e um nível moral baixo”, postou Netanyahu no X na semana passada.
“O governo liderado por mim agirá por todos os meios contra essas medidas”, acrescentou.
EUA negam “tratamento único”
Patel, vice-porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, rejeitou nesta segunda-feira a ideia de que Israel estava “recebendo um tratamento único” ao ter mais tempo para apresentar informações a fim de evitar possíveis punições.
“Não há nada que eu tenha descrito aqui que seja inconsistente com o processo Leahy”, destacou.
Ao abrigo da Lei Leahy, os Estados Unidos não podem prestar assistência a unidades de segurança estrangeiras que estejam implicadas de forma credível em violações dos direitos humanos.
Ainda assim, há uma excepção que “permite retomar a assistência a uma unidade se o Secretário de Estado determinar e reportar ao Congresso que o governo de o país está tomando medidas eficazes para levar à Justiça os membros responsáveis da unidade das forças de segurança”.
Entretanto, para uma das unidades das FDI, Blinken “determinou que não houve remediação eficaz até o momento”, escreveu ele na carta a Johnson.
“Esta unidade foi reconhecida pelo governo israelense por ter se envolvido em uma conduta inconsistente com as regras das FDI e, como resultado, foi transferida da Cisjordânia para as Colinas de Golã em 2022”, escreveu Blinken, sem nomear a unidade.
O batalhão Netzah Yehuda foi transferido da Cisjordânia para as Colinas de Golã em 2022.
O comandante da unidade foi repreendido no final de janeiro de 2022 após a morte do palestino-americano de 78 anos, Omar Assad, que morreu de ataque cardíaco depois de ser detido, amarrado e amordaçado, de acordo com as FDI.
Nenhum soldado enfrentou acusações criminais relacionadas com a morte de Assad.
Na carta, Blinken ainda destacou: “O governo israelense apresentou novas informações sobre a situação da unidade e nos empenharemos na identificação de um caminho para uma remediação eficaz para esta unidade”.
Patel não forneceu detalhes sobre quando as informações adicionais foram apresentadas aos EUA ou sobre o processo de remediação.
“O padrão de remediação é que estes respectivos países tomem medidas eficazes para responsabilizar a parte responsável perante a justiça. E isso é diferente de país para país”, ponderou em coletiva de imprensa.